25 de agosto de 2013

Teste 2013

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4 de junho de 2011

Caramba, a quanto tempo não apareço no blog, abandonei, gostaria de ter mais tempo para escrever, compartilhar experiências com vocês todos, mas o tempo me impede. Muitas coisas aconteceram nesse 1 ano de sumiço, muitas confusões que resultaram num amor, um amor lindo e puro, estou muito feliz.



Mas voltaremos com calma, com materias legais, duvidas, enfim, bastante coisa interessante.

Beijos a todos

Rafa

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13 de março de 2011

Quase Levy um Fora - Capitulo II

Capitulo II

Depois de quase vinte minutos, a Tânia, que era uma das selecionadoras, começou a chamar um por um para dar o resultado das provas. Como eu fui o primeiro a terminar, acabei sendo o primeiro a ser chamado:

-Fernando Viana?

-Eu...

Entregando-me a folha, ela comentou:

-Fernando, você não atingiu a pontuação necessária para as vagas de suporte... Sua média

foi 6,5...

-Por meio ponto?

-Pois é, mas não tem problema... Você continua concorrendo à vaga para "contas", que foi para a qual você foi encaminhado desde o início.

-Então pra que a prova?

-É porque tem algumas vagas pra suporte que precisam ser preenchidas. Aqueles que conseguirem atingir a pontuação, nós encaminhamos... Se o candidato não passar, ele continua concorrendo à outra vaga...

-Ah...

-Mas o salário é o mesmo.

-Tudo bem.

-Então... É só você aguardar mais um pouco, já, já aviso quem vai pra dinâmica na semana que vem.

-Obrigado!

Voltei pro lugar onde eu estava, e fiquei aguardando por mais um tempo ela avisar quem passou para a dinâmica da semana seguinte. Claro que todos dentro daquela sala queriam ouvir uma resposta positiva, porém, foram apenas três pessoas que passaram na prova, o que deixou as outras revoltadas.

-Calma pessoal... Tem cem vagas pra preencher... Não se preocupem que têm vagas pra todo mundo.

Ouvir que havia mais de cem vagas a serem preenchidas, tirou um peso enorme das minhas costas. Pelo menos uma delas eu iria fazer de tudo para preencher, e chegar em casa esfregando na cara do meu pai, fazendo ele engolir tudo que havia falado injustamente a meu respeito.

Pensando alto, sussurrei:

-Nossa... Eu preciso estar entre esses cem selecionados...

Cruzando as pernas, a Eliane comentou:

-Minha amiga disse que não é difícil...

-Tomara.

Retornando à sala com uma lista na mão, a Tânia pediu atenção:

-Pessoal... Os nomes que eu chamar, é que estão dispensados... Aqueles que eu não chamar, por favor, aguardem na sala...

Nessa hora comecei a ranger os dentes. Minha mão ficou gelada. Senti um frio na espinha e no umbigo, ao mesmo tempo em que suava frio. Só fiquei em paz quando a Tânia falou o último nome, e dentre todos que ela chamou, o meu não estava.

Cutucando meu ombro, a Eliane perguntou:

-Chamou seu nome, Fernando?

-Não... E o seu?

-Também não.

-Chamou você, Roberto?

-Não.

-Então eu acho que passamos.

-Também acho.

Ficaram poucas pessoas na sala junto com a gente. O tempo todo eu mantive a pose, e me segurei para não manifestar a alegria em que me encontrava, pois por dentro eu estava pulando, gritando de felicidade.

Encostando a porta, a Tânia falou sorrindo:

-Bom. Parabéns para vocês que ficaram!...

-Obrigado.

-A partir de quarta-feira, vocês irão começar a fazer o treinamento na empresa...

Todos que ali estavam murmuraram de contentamento.

-Esse treinamento não é remunerado e pode ser eliminatório... Depois desse treinamento, vocês irão fazer o exame médico e levar a documentação no RH, para depois iniciarem o treinamento do produto no prédio onde vocês irão trabalhar...

Levantando a mão, uma das meninas que sentava no fundo da sala perguntou:

-Por quanto tempo vai ser esse treinamento de produto?

-O treinamento do produto é de vinte dias... Nos primeiros quinze dias, vocês vão bancar o vale transporte de vocês, depois a empresa paga o retroativo até o final do mês...

Curiosa, a Eliane já foi logo perguntando:

-São remunerados esses vinte dias?

-Sim... A partir do momento em que vocês forem registrados, já vão receber como funcionários... O treinamento começa na segunda feira às 09h00, anotem o endereço...

Contente foi pouco. Fiquei hiper feliz por ter essa oportunidade de trabalhar em uma empresa multinacional.

Finalmente minha vida estava começando a se arranjar, e dali pra frente, era só lutar pelos meus sonhos.

No Brasil, apenas 36% dos jovens entre 15 e 24 anos têm emprego, outros 22% já trabalharam, mas estão desempregados atualmente. Em média os jovens demoram 15 meses para conseguir o primeiro emprego ou uma nova ocupação nas regiões metropolitanas, no total 66% deles precisam trabalhar porque todo o seu ganho, ou parte dele, complementa a renda familiar que não é suficiente para manter toda a família. (UOL, 2006: 01)

Os dias que antecederam ao treinamento pareciam não passar. A ansiedade tomava conta de mim. Não via à hora para que chegasse logo a segunda feira. Na noite anterior, nem consegui dormir direito. Rolei a noite inteira na cama, batendo a cabeça várias vezes na parede e tentando me imaginar desfilando com o crachá pela empresa.

Por volta de 07h00 levantei a todo vapor. Peguei uma toalha e fui direto tomar um banho quente antes de sair. Procurei não enrolar muito, pois queria sair antes que meus pais acordassem, para não ter que ficar respondendo aos questionamentos idiotas do meu pai, e sem precisar ouvir suas palavras de incentivo que mais me deprimiam do que ajudavam.

Saí da estação do metrô e comecei a procurar pela rua que estava anotada no papel.

Depois de perguntar para três pessoas, finalmente achei. Atravessei o Viaduto do Chá apressado, com medo de me atrasar.

Quando cheguei frente ao prédio, havia muita gente aguardando. Perguntei as horas para um garoto que estava sentado em um degrau da escada e me acalmei por saber que ainda era cedo.

O treinamento começaria às 09h00 e faltavam mais de trinta minutos. Logo depois de mim chegou o Roberto com um caderno na mão. Ao me ver, veio até mim me cumprimentar. Logo atrás dele avistei a Eliane, que parecia estar mais perdia que cego em tiroteio, no meio daquele monte de desempregado aglomerado.

Batucando em seu caderno o Roberto disse:

-Bom dia!

-Bom dia.

-Faz tempo que você chegou?

-Alguns minutos apenas.

Apoiando a mão direita em sua testa, a Eliane exclamou:

-Bom dia, Fernando!

-Bom dia, Eliane.

-Será que esse pessoal todo é pra treinamento?

-Acho que não... Têm alguns com crachá da empresa no pescoço...

-É...

Enquanto esperávamos, ficamos conversando sobre algumas experiências anteriores de trabalho. Morremos de rir com o Roberto falando de seu último emprego em uma loja de shopping.

Já eram quase 10h00 quando o segurança chamou todos e pediu para que fizéssemos uma fila. Portando uma lista nas mãos, um a um foi sendo chamado pelo nome. Após responder presença, entramos no prédio e seguimos para a sala de treinamento.

Fiquei um pouco perdido andando pelos corredores que mais pareciam um labirinto, com curvas e saídas para todos os lados. Ao encontrar a sala, escolhi um lugar bem no meio, para ter visão de todo o ambiente. As cadeiras eram estilo colegial, com braço apoio para escrever do lado esquerdo e assentos de couro preto, bem macio. Tudo naquela sala cheirava novo, inclusive as paredes com a nova pintura. Enquanto esperava, fiquei observando algumas pessoas. Não só eu, mas todos daquela sala estavam ansiosos e apreensivos, afinal, todos tínhamos um objetivo em comum, que era conseguir aquele emprego e aliviar o lado financeiro.

Um silêncio mortal brotou dentro daquela sala quando uma moça cheia de pacotes nas mãos cruzou a porta e se apresentou como Cíntia.

-Bom dia pessoal!

-Bom dia!

-Nossa... Mas que "Bom dia" desanimado...

-Bom diaaaaaaaaaaaaaaaa...

-Opa, começou a melhorar...

Sua brincadeira logo de início deixou o pessoal mais descontraído. Enrolando o cabelo, ela começou a falar:

-Galera... Meu nome é Cintia, ficarei com vocês por esses três dias de treinamento da empresa que também é eliminatório... Procurem não atrasar, não faltar, tudo isso será avaliado nesse período, portanto cuidado.

À medida em que ela ia interagindo conosco, foi nos deixando mais à vontade. O seu jeito meigo de menina e divertido, ia nos tirando o medo e tensão.

-Galerinha, eu vou passar pra vocês algumas informações a respeito da empresa, tudo bem?

-Sim.

-Cada prédio da empresa nós chamamos de "site"... O site que vocês irão trabalhar é o Oeste 1, um prédio bem alto, azul, todo espelhado próximo do metrô... Alguém já viu?

Sorrindo, uma das meninas levantou a mão.

-Eu...

-Bonito né?... Bom, a escala de trabalho de vocês será de seis por um, com quinze minutos de pausa lanche e cinco minutos de pausa particular... Vocês receberão um cartão lanche igual esse aqui... Com ele, vocês vão poder comprar lanche nas máquinas da empresa que ficam dentro do breack de cada andar... O beneficio do cartão pode ser flexibilizado, sendo cinqüenta por cento do valor no cartão lanche e cinqüenta por cento no cartão Vale Alimentação.

Levantando a caneta o Roberto perguntou:

-Mas isso é opcional?

-Sim... No "check-list" que daqui a pouco vou passar pra vocês, tem a opção de flexibilizar o benefício ou deixar tudo no cartão lanche... O salário de vocês será aquele passado na entrevista. Estão todos cientes?

-Sim!... E o vale transporte?

-O vale transporte, a empresa paga em dinheiro até duas conduções, ou seja, duas idas e duas voltas, que será depositado em conta corrente junto com o salário, todo último dia útil do mês...

Naquele dia a Cíntia basicamente só falou da empresa e dos benefícios que iríamos receber, nos entregou a lista de documentações necessárias e nos encheu de esperanças.


Continua...

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26 de fevereiro de 2011

Novo conto

Pois bem, como havia dito, vamos dar início ao novo conto:

Quase Levy um Fora

"Quando uma história de amor é verdadeira, ninguém consegue destruir."

Sobre o autor:

Lu Mounier®

Estudante na área de Comunicação Social, nasceu e foi criado em São Paulo. É o
autor de @mor.com.br; A marca de batom; Um estranho dentro de mim; Prazer em
conhecer; Eles perguntam, ele responde; O que olhos não veem, coração também
sente.

Começou a escrever livros aos seus 17 anos, trazendo como temas centrais
romances, transgressões culturais, envolvendo também os acontecimentos mundiais
e problemas atuais que o país enfrenta. Explicando das formas mais simples que
todo ser humano possui sua identidade própria, vontades e sentimentos que os
diferenciam do perfil ideal criado pela sociedade. Sendo visados como pecadores,
marginais, acabam sendo vítimas de preconceitos, discriminações, injustamente,
quando na verdade eles apenas são diferentes.

"Eu, Adriano, em nome do blog e do Rafa, agradeço ao autor do livro Quase levy um fora, pela autorização para publicá-lo neste blog. Tenho certeza de que todos vão gostar desse livro, pois ele realmente é escrito por um autor muito talentoso."
Obrigado, Lu Mounier.

Capítulo I

INDEPENDÊNCIA gritou Dom Pedro I às margens do Rio Ipiranga em uma viagem
de Santos à São Paulo. No dia 13 de maio de 1888 foi abolida a escravatura no Brasil,
tornado os escravos livres, e em 1934 a mulher conquistou o direito de votar nesse
país. A palavra INDEPENDÊNCIA vem acompanhando a humanidade há séculos. Todo
mundo sonha em ser independente um dia, viver sem ter que ficar dando satisfações pra
alguém, ganhar seu próprio dinheiro, poder amar livremente sem ser reprimido, coisa muito
difícil em nosso meio cheio de preconceitos e obstáculos.
Foi em uma quinta-feira que tudo começou. Viver na cidade de São Paulo é
conviver com as quatro estações do ano em um dia só. De uma hora pra outra o tempo
muda e quando isso acontecia, eu sempre acabava ficando doente. Naquele dia eu acordei
cedo. Tomei um banho bem gostoso e quentinho antes de sair para ir à aula de inglês.
Dentro do metrô já comecei a me sentir mal, não sei se foi o sanduíche que eu havia
comido, só sei que minha barriga estava doendo muito. Sorrindo, a professora entrou na
sala exclamando:
-Good afternoon!
-Hello...
A metodologia da escola era muito boa, pois as aulas eram todas dinâmicas e bem
participativas, mas devido ao enjôo e dor de cabeça não consegui me concentrar na matéria.
Sentada ao meu lado estava a Maria, que ao reparar o quanto eu estava pálido
perguntou sussurrando:
-Fe, você está bem?
Com a voz embargada respondi:
-Não muito, Ma...
-O que você tem?
-Sei lá, estou com enjôo...
-Você almoçou hoje?
-Sim... Pão com hambúrguer...
-Ai Fe, não fique comendo essas bobagens, faz mal...
-Eu sei, Ma... Mas não tinha comida pronta em casa, e também não dava tempo de
preparar antes de vir pra aula.
Enquanto a professora montava o painel no quadro branco, continuávamos
conversando baixo:
-Sabe o que é bom?
-O quê?
-Chá de camomila...
-Sério?
-Sim... Quando você chegar em casa, faz um chazinho sem açúcar e toma.
-Vamos ver se passa mesmo.
Depois da aula, passei em uma lanchonete de comida árabe que havia em frente à
escola e comprei algumas esfihas. Quem sabe depois de comer algo menos gorduroso e
calórico, minha dor passava. Em menos de cinco minutos meu pedido já estava pronto.
Peguei a caixa e fui direto para casa.
Há dias eu já vinha me sentindo mal, achando que iria pegar uma gripe. Cheguei em
casa febril. Meu irmão já havia ido pra escola, pois ele estudava à tarde. Antes de trocar de
roupa fui até a cozinha, coloquei as esfihas dentro do microondas para não esfriarem, em
seguida liguei o rádio da sala bem alto.
Ainda me sentindo um pouco fraco, peguei o aspirador de pó e fui passar na sala de
casa, pois já que eu estava sem fazer nada - não me custava - embora eu não estivesse
muito bem.
Minha febre só aumentava e minha tosse estava contínua. Tomei um antitérmico
para ver se melhorava, pois a impressão que eu tira era de que minha cabeça iria explodir -
de tanto que latejava. Meus olhos lacrimejavam muito e espirros eram um atrás do outro.
Deitei um pouco na minha cama depois de tomar o chá de camomila com um
analgésico. Tremendo de frio, peguei um cobertor e liguei a TV. Com o controle remoto na
mão, eu passava de canal o tempo todo, até que acabei adormecendo com o efeito do
remédio.
Embaixo daquele cobertor quentinho eu dormia bem gostoso, até ser acordado pelos
latidos da minha cachorra com a chegada dos meus pais.
Misturado ao som de passos ouvi a voz da minha mãe dizendo:
-Ai que canseira... Deixa eu ir tirar essa roupa e depois lavar essa pilha de louça...
Quase gritando, meu pai completou:
-Olha o tanto de louça suja e ninguém tem coragem de lavar...
-O Thiago, como você pode ver, está na rua.
-E o marmanjo do Fernando? Não faz nada o dia todo, só fica dentro de casa...
-O Fernando não anda bem, Vitor.
-Frescura... Não quero nem saber, se até dezembro ele não arrumar um emprego, em
janeiro vai trabalhar comigo no bar, não vou criar filho vagabundo dentro de casa.
Mesmo que seja por um momento de fúria, ouvir aquilo de um pai dói, fere, magoa,
marca. Meu peito apertou e as lágrimas começaram a descer sem que eu pudesse controlar.
Suas palavras ficaram martelando em minha cabeça. Não estava em meus planos trabalhar
com meu pai, pois sua arrogância insuportável o afastava de todos, inclusive da minha mãe.
Era sempre assim. Eu poderia contar nos dedos às vezes que meu pai proferiu um
elogio a meu respeito. Sempre seco e prepotente, não só comigo, porém, era algo que me
entristecia demais, pois crescer sendo desprezado pelo próprio pai reflete psicologicamente
em nosso futuro.
No outro dia acordei cedo. A partir daquele diz eu decidi que iria tomar um outro
rumo para minha vida. Peguei minha toalha e fui pro banheiro tomar um banho pra tirar o
sono, antes de sair para procurar um emprego. Enquanto a água caia em minhas costas, eu
chorava ao relembrar as palavras duras do meu pai na noite anterior.
Não entendia o por quê ele me tratava daquele jeito. Eu nunca havia feito nada que
o fizesse se envergonhar de mim, tirava notas boas na escola - e modéstia à parte - eu era
um filho exemplar. Às vezes, a sensação era como se eu caísse dentro de um buraco e um
caminhão de terra me cobrisse, sufocando-me pouco a pouco.
Lágrimas se misturavam à água que descia pelo meu corpo, enquanto passava
xampu em meu cabelo e prometendo a mim mesmo que iria provar ao meu pai que eu não
era nada daquilo que ele me chamava.
A caminho do quarto, cruzei com minha mãe no corredor do quarto, que ao me ver
saindo de toalha tão cedo perguntou:
-Fernando... Aonde você vai?
Pensando em uma desculpa rápida respondi:
-Eu... Estou indo à dermatologista...
-Ah...
Preferi não contar a verdade por enquanto. Achei melhor dar a notícia só quando
estivesse empregado, pois não queria ouvir de ninguém - principalmente do meu pai -
frases pessimistas que me deixassem pra baixo.
Saí de casa antes do dia clarear. Tranquei a porta e ao pisar na calçada pensei
positivo. No caminho até o metrô fui planejando meu futuro.
Minha vontade era de poder morar sozinho e ter minha liberdade, receber quem eu
quisesse em casa, sem ter que ficar dando satisfações dos meus atos.
Chegando na estação, quase não acreditei quando tive que pegar uma fila enorme
para comprar bilhete. No meu bolso só havia meus documentos e o dinheiro contado para ir
e vir, pois era o que havia sobrado de troco do dia anterior, quando fui ao curso de inglês.
Depois de passar quase quarenta minutos na fila pra comprar bilhete, tive que pegar
uma outra fila pra passar pela catraca. Lá se foram mais quinze minutos até chegar à
plataforma.
Eu não gostava de pegar metrô na parte da manhã, porque além de ser cheio, é
muito desagradável viajar amassado igual sardinha em lata. Sem contar que as pessoas são
muito sem educação. Empurram a gente na pressa de entrar e acabam nos machucando.
Tudo bem que têm pessoas que necessitam chegar logo no trabalho, mas devemos ter a
consciência de que vivemos em uma civilização, sendo assim, cada um deve respeitar o
espaço do outro para o bem estar de todos.
Com o fluxo muito alto de pessoas querendo embarcar para o mesmo sentido ao
mesmo tempo, o metrô se torna mais lento, sendo assim, atrasando ainda mais nossa vida.
Depois de quase duas horas tentando chegar à agência de empregos, finalmente
consegui. Como se já não bastasse, tive que pegar uma fila enorme na porta, para completar
bem o meu dia.
Caminhei até o final da rua onde começava a fila e fiquei aguardando a distribuição
de senha. A manhã estava um pouco fria. Sentei-me no canto da calçada enquanto o vento
gelado cortava meu rosto. Ali parado - de braços cruzados - eu via os ambulantes passando
de um lado para o outro, vendendo chocolate quente, bolo, pão de queijo. Minha
barriga chegava a doer de tanta fome, mas eu não tinha nem um centavo no bolso para
comprar um pedaço de bolo se quer, assim como muita gente daquela fila.
Peguei a senha de número 1314. Esfregando os braços entrei no galpão de espera.
No relógio da entrada já passavam dás 09h00. Sentei-me em uma cadeira branca de plástico
que ficava enfileirada com várias outras, enquanto ouvia um radinho de pilha que eu levava
no bolso. No teto havia alguns altos falantes que ficavam informando a todo tempo sobre
algumas vagas remanescentes, intercalada com a chamada das senhas.
Meus olhos já estavam pesados de sono. De braços e pernas cruzadas, acabei
cochilando enquanto aguardava meu número ser chamado.
Minha barriga doía de fome e meus músculos tremiam de frio. Assim permaneci até
ouvir chamarem a senha de número 1314. Até que enfim eu seria atendido, pelo menos era
o que eu pensava. Junto com outras pessoas, fui levado até uma outra sala dentro do prédio,
onde fiquei aguardando por mais um bom tempo antes ser chamado. Nessa outra sala havia
TV e ar condicionado, tornando o ambiente mais agradável, diferente do clima onde eu
estava anteriormente.
Olhei no relógio e já passada dás 12h00. A cada minuto que passava, minha barriga
doía ainda mais, roncando desordenadamente de fome. Esperei por mais uma hora até ser
chamado para fazer o cadastro.
-Bom dia!
-Bom dia!
-É a primeira vez que você vem aqui?
-Sim.
-Então vamos fazer seu cadastro, ta bom?
-Tudo bem.
-Empresta pra mim sua carteira de trabalho, RG e CPF?
-Deixa eu pegar... Ta aqui.
-Eu vou te fazendo algumas perguntas e você vai me respondendo pra eu registrar aqui,
tudo bem?
-Ok.
A garota que me atendeu era bem simpática e muito atenciosa, além de ser educada
e paciente. Geralmente essas pessoas nos atendem muito mal e com estupidez - mas ela foi
diferente - ainda bem. Respondi algumas perguntas básicas como endereço, telefone,
escolaridade, entre outras.
Depois de efetuado o cadastro, ela me devolveu os documentos e começou a
procurar uma vaga no sistema de acordo com meu perfil.
-Prontinho Fernando, aqui estão seus documentos...
-Obrigado!
-Agora eu vou fazer uma busca pra ver se encontro uma vaga no seu perfil.
-Uhum.
-Vamos ver... Olha Fernando, tem uma vaga de teleoperador pra suporte à internet, te
interessa?
Quando ela falou que havia uma vaga de emprego para mim eu fiquei feliz da vida.
-Sim!
-Vou imprimir então a carta de encaminhamento para você ir pro processo seletivo.
-Ta bom... Quando vai ser?
-Hoje mesmo... às 14h00 no 9º andar... Tudo bem pra você?
-Sem problemas.
Entregando-me um envelope ela falou:
-Então é só você subir lá e entregar esse papel...
-Ok. Muito obrigado!
-Por nada. Boa sorte, hein Fernando.
-Valeu.
Subi as escadas feliz da vida, passando por cima dos dizeres do meu pai e provando
que eu não era nada daquilo que ele havia nomeado. De volta ao pátio, sentei-me em uma
cadeira esperando dar o horário para passar pela seleção.
Lá fora o clima já havia esquentado. Já não ventava mais e o sol tímido às vezes
aparecia. À minha frente havia uma lanchonete e o cheiro de pão de queijo que vinha de lá
fazia meu estomago roncar.
Minha ansiedade era tanta que o tempo parecia não passar. Junto comigo haviam
pessoas de vários tipos - todas com o mesmo objetivo que era encontrar um emprego.
No Brasil, é grande a preocupação dos trabalhadores,
dos sindicatos, das autoridades e dos estudiosos de
problemas sociais, enquanto o IBGE fala em taxa de
12%, a Fundação Seade/Dieese fala em 18% na região
metropolitana da Grande São Paulo. A verdade é que o
país tem hoje, em qualquer família
alguém desempregado, essa é uma realidade que está
muito próxima de cada um dos brasileiros.

(LIBRARY/ REFORMA, 2006: 21)
Minha fome só fazia aumentar. Não via a hora de chegar em casa e almoçar - até
tontura eu já estava começando a sentir. Nunca havia passado por uma situação como
aquela. De certa forma me senti humilhado, um lixo, um ninguém. Tive vontade de chorar
ao ver uma criança passando na minha frente mordendo um cachorro quente, sendo que eu
não tinha dinheiro para comprar um pra mim, e sendo filho de um pai comerciante com
renda acima da média desse país.
Finalmente o horário da seleção chegou. No hall do elevador já havia uma
fila aguardando para receber a etiqueta e subir ao 9º andar.
Uma infinidade de sonhos se passava pela minha cabeça, junto com a esperança de
que aquela vaga estava destinada para mim.
Depois que o funcionário terminou de entregar as etiquetas, passamos pela catraca,
que era liberada por um segurança, em seguida fomos em direção ao elevador que ficava no
final de um estreito corredor.
Minha barriga gelava de ansiedade e roncava de fome. Perdida, uma garota que
estava à minha frente começou a puxar assunto comigo, uma forma de disfarçar o
nervosismo.
-Você está indo pra seleção de banda larga?
-Sim e você?
-Também... Como você ficou sabendo dessa vaga?
-Eu vim aqui hoje de manhã e me encaminharam...
-Ah...
-E você?
-Uma amiga me avisou ai eu vim aqui... Ta com medo?
-Um pouco...
-Eu também. Qual seu nome?
-Fernando e o seu?
-Eliane.
Olhando para o indicador de andar ela disse com o soar da campainha:
-Nossa... Até que enfim o elevador chegou.
Entramos no elevador e subimos calados até o 9º andar. Eu já estava suando frio,
tamanho era o medo que eu estava de fazer algo de errado e não ser selecionado.
Assim que saímos do elevador começamos a procurar a sala 3, onde aconteceria a
seleção. Segurando um papel na mão a Eliane falou:
-Ela falou pra procurar a sala 3...
-Deve ser no final do corredor... Porque aqui é a 1...
Apontando com o dedo indicador ela disse:
-É ali.
Caminhamos até o final do comprido corredor em direção a sala 3. Eram todas
separadas por divisórias com números nas portas e painéis de vidro nas paredes.
Sentei na cadeira ao lado da entrada e ao meu lado se sentou a Eliane, que nervosa
não parava de tremer. Pouco tempo depois a selecionadora chegou, recolhendo as cartas de
encaminhamento. Deixei a minha sobre sua mesa e voltei para meu lugar. Um frio na
espinha corria de cima a baixo por ser o primeiro. Não sei por que quedas d’água ela
escolheu justo a mim pra começar a entrevista:
-Fernando Viana?
-Eu...
-Pode sentar aqui.
-Obrigado.
A saliva passou rasgando pela minha garganta.
-Tudo bem com você, Fernando?
-Tudo sim!
-Já trabalhou com telemarketing alguma vez?
-Nunca.
-Certo... Vou pedir para você ler essas frases aqui pra mim...
-Ta certo.
Ela tirou uma folha de dentro de uma pasta azul com várias frases em formato de
trava-língua e pediu que eu lê-se algumas.
-Lê pra mim as frases 1, 3, 4 e 6?
-Ok... 1- Cliente chato é um problema...
Confesso que fiquei com medo de gaguejar no começo, pois nessas horas eu sempre
metia os pés pelas mãos e acabava me ferrando. As frases não eram difíceis, mas se eu
ficasse nervoso ou falasse muito rápido, acabaria falando "pobrema", "resistro"... Foi o que
aconteceu com uma garota que foi chamada depois de mim.
Conjugar corretamente os verbos e concordar plural com singular já é uma questão
de costume. Embora a forma correta seja ensinada na escola, grande parte das pessoas têm
a cultura de comer palavras, pois crescem ouvindo os pais falarem dessa forma e acabaram
absorvendo o linguajar, acreditando que seja o correto.
Rabiscando minha ficha ela falou:
-Muito bem, Fernando. Agora é só aguardar no seu lugar...
-Obrigado!
Ainda com as pernas mole, voltei para a cadeira onde eu estava sentado
anteriormente. Logo em seguida a Eliane foi chamada para ler aquelas frases idiotas,
denominadas por eles de "teste de dicção". Pelo que observei, ela se saiu muito bem,
tirando o fato de ter derrubado a pasta da selecionadora no chão ao se levantar da cadeira.
Enquanto outras pessoas faziam o teste, eu e a Eliane arriscávamos alguns palpites:
-Eai... Você acha que foi bem?
-Não sei... Ela fez uma cara de indiferença...
Segurando a risada ela comentou:
-Pior foi eu que derrubei a pasta dela.
-Nossa, até eu senti vergonha por você.
-Hahaha... Nem me lembre.
Depois de ficar quase uma hora aguardando todos fazerem o teste, a selecionadora
informou que teríamos de fazer outra prova, correspondente a segunda fase do processo
seletivo.
-Eu vou passar essas duas folhas pra vocês... Respondam na segunda folha em branco...
Enquanto cada um pegava a sua e passava o restante para trás, ela continuava a
falar:
-Não se preocupem que a prova não é difícil... É necessário uma nota mínima de 7 pontos
para a vaga de "suporte banda larga". Quem não atingir os pontos necessários, não tem
problema, nós indicaremos pro departamento de contas.
Quando ela falou de prova, eu gelei. Esse negócio só serve mesmo pra liberar os
candidatos distraídos. O pior de tudo é que ninguém utiliza aquele monte de babaquices que
eles costumam perguntar nas provas. Se não fosse isso, muita gente teria a oportunidade de
mostrar seu profissionalismo e potencial desempenhando sua função.
Peguei uma folha do questionário e passei o resto para trás. Não tínhamos muito
tempo para fazer a prova, então me concentrei ao máximo para terminar dentro do prazo e
depois poder rever as respostas.
O clima dentro da sala era de nervosismo total. Às vezes alguém dava uma espiada
na prova do lado, mas tudo na maior discrição para não ser pego pela selecionadora.
Naquele momento eu relembrei dos meus tempos de escola. As épocas de provas eram
aquele tumultuo, onde todo mundo escrevia a cola na carteira, espiava a folha do colega e
seguiam o dilema: "Quem não cola, não sai da escola".
Assim que terminei minha prova, levantei da cadeira e a coloquei sobre a mesa da
Tânia, que distraída nem percebeu. Voltei para o meu lugar e fiquei aguardando todos
terminarem, estralando os dedos, roendo as unhas, tamanho nervosismo. Eu acho que essa é
uma das piores partes de uma seleção, onde você fica esperando pelo resultado por alguns
minutos que custam passar, parece durar uma eternidade.
Caminhando entre o pessoal a Tânia falou:
-Vão passando as provas pro colega da frente, por favor...
Atrás de mim estava a Eliane, que ao me entregar as provas comentou:
-E ai, foi bem na prova?
-Humpft... Bem mal, que prova difícil era aquela?
-Meu... Estava muito difícil...
Nessa hora, um rapaz que estava ao lado da Eliane entrou na conversa, e juntos
começamos a comentar sobre as questões:
-Vocês acharam a prova difícil?
-Demais.
-Eu também achei.
Coçando o olho, ele comentou:
-Com certeza eu fui mal... Meu nome é Roberto, prazer!
-Meu nome é Fernando.
-Eu me chamo Eliane.
Ficamos os três conversando por um bom tempo, até divulgarem o resultado. O
Roberto era um cara alegre, divertido e bem falante. A Eliane também, falava pelos
cotovelos e quando os dois se juntaram para conversar, eu nem tive chance de interromper,
acabei ficando com o papel de expectador.

Continua no proximo sábado...


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22 de fevereiro de 2011

Novo conto no blog

Olá pessoal, tudo bem?

Bom, to aqui pra contar uma novidade pra vcs. A partir de agora o blog terá um novo conto. Na verdade o conto é um livro muito bem escrito por um autor muito legal. Eu pretendo colocar uma parte a cada semana, provavelmente a cada sábado. Enfim, é isso. Continuem visitando o blog, pois tenho certeza de que todos vão adorar a história. Logo logo trago mais noticias e a primeira parte do conto.

Adriano.

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