13 de março de 2011

Quase Levy um Fora - Capitulo II

Capitulo II

Depois de quase vinte minutos, a Tânia, que era uma das selecionadoras, começou a chamar um por um para dar o resultado das provas. Como eu fui o primeiro a terminar, acabei sendo o primeiro a ser chamado:

-Fernando Viana?

-Eu...

Entregando-me a folha, ela comentou:

-Fernando, você não atingiu a pontuação necessária para as vagas de suporte... Sua média

foi 6,5...

-Por meio ponto?

-Pois é, mas não tem problema... Você continua concorrendo à vaga para "contas", que foi para a qual você foi encaminhado desde o início.

-Então pra que a prova?

-É porque tem algumas vagas pra suporte que precisam ser preenchidas. Aqueles que conseguirem atingir a pontuação, nós encaminhamos... Se o candidato não passar, ele continua concorrendo à outra vaga...

-Ah...

-Mas o salário é o mesmo.

-Tudo bem.

-Então... É só você aguardar mais um pouco, já, já aviso quem vai pra dinâmica na semana que vem.

-Obrigado!

Voltei pro lugar onde eu estava, e fiquei aguardando por mais um tempo ela avisar quem passou para a dinâmica da semana seguinte. Claro que todos dentro daquela sala queriam ouvir uma resposta positiva, porém, foram apenas três pessoas que passaram na prova, o que deixou as outras revoltadas.

-Calma pessoal... Tem cem vagas pra preencher... Não se preocupem que têm vagas pra todo mundo.

Ouvir que havia mais de cem vagas a serem preenchidas, tirou um peso enorme das minhas costas. Pelo menos uma delas eu iria fazer de tudo para preencher, e chegar em casa esfregando na cara do meu pai, fazendo ele engolir tudo que havia falado injustamente a meu respeito.

Pensando alto, sussurrei:

-Nossa... Eu preciso estar entre esses cem selecionados...

Cruzando as pernas, a Eliane comentou:

-Minha amiga disse que não é difícil...

-Tomara.

Retornando à sala com uma lista na mão, a Tânia pediu atenção:

-Pessoal... Os nomes que eu chamar, é que estão dispensados... Aqueles que eu não chamar, por favor, aguardem na sala...

Nessa hora comecei a ranger os dentes. Minha mão ficou gelada. Senti um frio na espinha e no umbigo, ao mesmo tempo em que suava frio. Só fiquei em paz quando a Tânia falou o último nome, e dentre todos que ela chamou, o meu não estava.

Cutucando meu ombro, a Eliane perguntou:

-Chamou seu nome, Fernando?

-Não... E o seu?

-Também não.

-Chamou você, Roberto?

-Não.

-Então eu acho que passamos.

-Também acho.

Ficaram poucas pessoas na sala junto com a gente. O tempo todo eu mantive a pose, e me segurei para não manifestar a alegria em que me encontrava, pois por dentro eu estava pulando, gritando de felicidade.

Encostando a porta, a Tânia falou sorrindo:

-Bom. Parabéns para vocês que ficaram!...

-Obrigado.

-A partir de quarta-feira, vocês irão começar a fazer o treinamento na empresa...

Todos que ali estavam murmuraram de contentamento.

-Esse treinamento não é remunerado e pode ser eliminatório... Depois desse treinamento, vocês irão fazer o exame médico e levar a documentação no RH, para depois iniciarem o treinamento do produto no prédio onde vocês irão trabalhar...

Levantando a mão, uma das meninas que sentava no fundo da sala perguntou:

-Por quanto tempo vai ser esse treinamento de produto?

-O treinamento do produto é de vinte dias... Nos primeiros quinze dias, vocês vão bancar o vale transporte de vocês, depois a empresa paga o retroativo até o final do mês...

Curiosa, a Eliane já foi logo perguntando:

-São remunerados esses vinte dias?

-Sim... A partir do momento em que vocês forem registrados, já vão receber como funcionários... O treinamento começa na segunda feira às 09h00, anotem o endereço...

Contente foi pouco. Fiquei hiper feliz por ter essa oportunidade de trabalhar em uma empresa multinacional.

Finalmente minha vida estava começando a se arranjar, e dali pra frente, era só lutar pelos meus sonhos.

No Brasil, apenas 36% dos jovens entre 15 e 24 anos têm emprego, outros 22% já trabalharam, mas estão desempregados atualmente. Em média os jovens demoram 15 meses para conseguir o primeiro emprego ou uma nova ocupação nas regiões metropolitanas, no total 66% deles precisam trabalhar porque todo o seu ganho, ou parte dele, complementa a renda familiar que não é suficiente para manter toda a família. (UOL, 2006: 01)

Os dias que antecederam ao treinamento pareciam não passar. A ansiedade tomava conta de mim. Não via à hora para que chegasse logo a segunda feira. Na noite anterior, nem consegui dormir direito. Rolei a noite inteira na cama, batendo a cabeça várias vezes na parede e tentando me imaginar desfilando com o crachá pela empresa.

Por volta de 07h00 levantei a todo vapor. Peguei uma toalha e fui direto tomar um banho quente antes de sair. Procurei não enrolar muito, pois queria sair antes que meus pais acordassem, para não ter que ficar respondendo aos questionamentos idiotas do meu pai, e sem precisar ouvir suas palavras de incentivo que mais me deprimiam do que ajudavam.

Saí da estação do metrô e comecei a procurar pela rua que estava anotada no papel.

Depois de perguntar para três pessoas, finalmente achei. Atravessei o Viaduto do Chá apressado, com medo de me atrasar.

Quando cheguei frente ao prédio, havia muita gente aguardando. Perguntei as horas para um garoto que estava sentado em um degrau da escada e me acalmei por saber que ainda era cedo.

O treinamento começaria às 09h00 e faltavam mais de trinta minutos. Logo depois de mim chegou o Roberto com um caderno na mão. Ao me ver, veio até mim me cumprimentar. Logo atrás dele avistei a Eliane, que parecia estar mais perdia que cego em tiroteio, no meio daquele monte de desempregado aglomerado.

Batucando em seu caderno o Roberto disse:

-Bom dia!

-Bom dia.

-Faz tempo que você chegou?

-Alguns minutos apenas.

Apoiando a mão direita em sua testa, a Eliane exclamou:

-Bom dia, Fernando!

-Bom dia, Eliane.

-Será que esse pessoal todo é pra treinamento?

-Acho que não... Têm alguns com crachá da empresa no pescoço...

-É...

Enquanto esperávamos, ficamos conversando sobre algumas experiências anteriores de trabalho. Morremos de rir com o Roberto falando de seu último emprego em uma loja de shopping.

Já eram quase 10h00 quando o segurança chamou todos e pediu para que fizéssemos uma fila. Portando uma lista nas mãos, um a um foi sendo chamado pelo nome. Após responder presença, entramos no prédio e seguimos para a sala de treinamento.

Fiquei um pouco perdido andando pelos corredores que mais pareciam um labirinto, com curvas e saídas para todos os lados. Ao encontrar a sala, escolhi um lugar bem no meio, para ter visão de todo o ambiente. As cadeiras eram estilo colegial, com braço apoio para escrever do lado esquerdo e assentos de couro preto, bem macio. Tudo naquela sala cheirava novo, inclusive as paredes com a nova pintura. Enquanto esperava, fiquei observando algumas pessoas. Não só eu, mas todos daquela sala estavam ansiosos e apreensivos, afinal, todos tínhamos um objetivo em comum, que era conseguir aquele emprego e aliviar o lado financeiro.

Um silêncio mortal brotou dentro daquela sala quando uma moça cheia de pacotes nas mãos cruzou a porta e se apresentou como Cíntia.

-Bom dia pessoal!

-Bom dia!

-Nossa... Mas que "Bom dia" desanimado...

-Bom diaaaaaaaaaaaaaaaa...

-Opa, começou a melhorar...

Sua brincadeira logo de início deixou o pessoal mais descontraído. Enrolando o cabelo, ela começou a falar:

-Galera... Meu nome é Cintia, ficarei com vocês por esses três dias de treinamento da empresa que também é eliminatório... Procurem não atrasar, não faltar, tudo isso será avaliado nesse período, portanto cuidado.

À medida em que ela ia interagindo conosco, foi nos deixando mais à vontade. O seu jeito meigo de menina e divertido, ia nos tirando o medo e tensão.

-Galerinha, eu vou passar pra vocês algumas informações a respeito da empresa, tudo bem?

-Sim.

-Cada prédio da empresa nós chamamos de "site"... O site que vocês irão trabalhar é o Oeste 1, um prédio bem alto, azul, todo espelhado próximo do metrô... Alguém já viu?

Sorrindo, uma das meninas levantou a mão.

-Eu...

-Bonito né?... Bom, a escala de trabalho de vocês será de seis por um, com quinze minutos de pausa lanche e cinco minutos de pausa particular... Vocês receberão um cartão lanche igual esse aqui... Com ele, vocês vão poder comprar lanche nas máquinas da empresa que ficam dentro do breack de cada andar... O beneficio do cartão pode ser flexibilizado, sendo cinqüenta por cento do valor no cartão lanche e cinqüenta por cento no cartão Vale Alimentação.

Levantando a caneta o Roberto perguntou:

-Mas isso é opcional?

-Sim... No "check-list" que daqui a pouco vou passar pra vocês, tem a opção de flexibilizar o benefício ou deixar tudo no cartão lanche... O salário de vocês será aquele passado na entrevista. Estão todos cientes?

-Sim!... E o vale transporte?

-O vale transporte, a empresa paga em dinheiro até duas conduções, ou seja, duas idas e duas voltas, que será depositado em conta corrente junto com o salário, todo último dia útil do mês...

Naquele dia a Cíntia basicamente só falou da empresa e dos benefícios que iríamos receber, nos entregou a lista de documentações necessárias e nos encheu de esperanças.


Continua...

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